NOME DE POBRE NO BRASIL

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ECOS ESTRANGEIROS NA LÍNGUA PORTUGUESA

Não é de hoje que palavras e expressões da língua inglesa reverberam em nosso idioma

A expressão "Dia D" é tradução do inglês D-Day. O primeiro Dia D deu-se na Segunda Guerra Mundial. A invasão da Normandia estava marcada para 5 de junho de 1944. Como fez mau tempo, o desembarque deu-se no dia seguinte. "Dia D" migrou do meio militar para os dicionários com o fim de designar o começo de uma operação planejada com bastante antecedência.

Outra expressão nascida naquela guerra foi "blecaute", do inglês black out. De setembro de 1939 a abril de 1945, os ingleses eram obrigados por lei a cobrir as janelas antes de escurecer, para dificultar os bombardeios alemães. Hoje é mais comum "apagão" em vez de "blecaute".

Nós voltamos à estaca zero, mas originalmente a volta era à estaca um: "Back to square one". Nos albores da Era do Rádio, os ouvintes tinham dificuldade de entender um jogo que não viam. Uma representação gráfica do campo, imitando um tabuleiro de xadrez, passou a ser publicada nos jornais para que eles acompanhassem os jogos, voltando sempre que necessário à estaca um.

Guinéu
O porquinho-da-índia não é porco e não é da Índia. As Índias Ocidentais foram confundidas com a América do Sul, onde o bichinho era criado para alimento. Desde o século 19, o animal vem sendo usado como cobaia, que em inglês é guinea pig. Guinea designava, não apenas a Guiné, mas qualquer lugar muito distante dos EUA. E os bichinhos eram vendidos por marinheiros ingleses ao preço de um guinéu,
moeda de ouro. O nome pegou.

E ainda temos os problemas da tradução. "O xerife xis despachou o deputado Fulano para investigar um caso", estranhou Ruy Castro, que explicou a confusão: "o xerife estava dando ordens ao seu humilde auxiliar - deputy, em inglês."

Visitas, as palavras vindas do inglês devem ser bem recebidas, desde que não mandem em nossa casa, a língua portuguesa. Do contrário, o texto vira uma miscelânea, do latim miscellanea, a gororoba servida aos gladiadores. Aquela refeição poderia ser a última! Afinal, eles iam morrer!

*Escritor, doutor em letras pela USP, professor e vice-reitor de Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CONGRESSO DE ESCRITORES: A OMISSÃO DA MÍDIA

O anfiteatro estava lotado no Congresso de Escritores para minha oficina A Arte de Narrar. Durou duas horas. Foram feitas perguntas muito pertinentes. Fábio Lucas, um dos melhores críticos literários do Brasil, assistiu à oficina inteirinha. Menalton Braft, grande escritor, com prêmios importantes na bagagem, inclusive alguns Jabutis, me apresentou ao distinto público, mas todos conheciam o autor ou sua obra e disseram que por isso mesmo se tinham inscrito.

No corredor, vejo o escritor Joaquim Botelho, presidente da UBE, que levou sua mãe, a tradutora de grego e de latim, para o Congresso. Que lindo gesto.

Nos corredores e restaurantes, encontro o escritor e tradutor Luís Avelima, quero saber o que anda fazendo, e ele me informa que está traduzindo uma antologia de autores russos. Encontro também a crítica literária Dirce Lorimier e o poeta e ensaísta Claudio Willer. Vejo nos recortes de jornais afixados na parede que o jornalista e biógrafo Fernando Morais e a romancista e psicanalista Betty Milan falaram no dia anterior a diversas das pessoas ali presentes. Betty enfatizou as relações entre autor, obra e público, e as dificuldades do autor para chegar ao leitor, dado o antigo (que parece eterno) problema da distribuição de livros. Fernando Morais queixou-se de que não vai poder pagar a indenização de R$ 500 mil, imposta em rumoroso processo judicial movido por Ronaldo Caiado, que se sentiu ofendido em certos trechos da biografia de Assis Chateaubriand.

Na sala ao lado, o jornalista e romancista José Nêumanne Pinto disserta sobre o que sabe de Lula e reitera que seu livro O que sei de Lula (Editora Topbooks) apresenta um Lula de direita, vindo das lutas sindicais que, segundo ele, tem projetos estranhos e parece ter como prioridade ocupar os aparelhos de Estado.

Se cobertura

Nos jornais e revistas nas bancas, nenhuma linha sobre o Congresso de Escritores. Minha memória começa a brotar. No primeiro, em 1945, eu ainda não tinha nascido, e dele só sei o que li, com destaque para a presença de Graciliano Ramos. Mas do segundo, em 1985, eu estava participando como escritor, já com oito livros publicados, pois que demorara quarenta anos para que fosse realizada aquela segunda edição.

Neste terceiro, agora com 33 livros publicados, e tendo chegado ao Outono, com meus 63 anos, o que vejo? O que vejo é pouco em comparação com o que vi em 1985. Tancredo Neves agonizava num hospital e morreria dali a dois ou três dias. Coubera-me, então, sentar ao lado de Rubem Braga, que a toda hora me pedia para olhar para a mesa onde estavam o presidente José Sarney, ao lado de Fernando Henrique Cardoso. O sabiá da crônica, seu melhor epíteto, me cochichava ao ouvido: “Como esse Fernando Henrique é cínico!”

Mas em 1985 havia a imprensa espelhando aquele Congresso. Deste, a mídia, com raras exceções, esteve ausente. Mas nas navegações ao longo da vida também se rema contra a corrente, e aqui estamos, em Ribeirão Preto, a postos mais uma vez. Tomara que ao próximo Congresso de Escritores a imprensa vá e informe ao distinto público o que ocorrer. Do contrário, a mídia, obcecada com denúncias de todos os tipos, deixará de informar um momento decisivo da vida dos escritores.

Bem, esta é uma crítica de mídia, e, no caso, foi a crítica de um sentida ausência. Não sei por que os jornais, as revistas, as emissoras de rádio e TV não foram cobrir o Congresso. Só sei que não foram e aqui deixo da ausência tão notada este inconformado registro.